Como o Congresso Nacional Controla o Orçamento Brasileiro em 2025: O Fim do Orçamento Secreto?
Entenda como o Congresso Nacional influencia o orçamento público brasileiro em 2025 e por que o Executivo se tornou refém das emendas parlamentares.
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Carlos Eugenio
6/28/20253 min ler


Orçamento Secreto, Emendas Parlamentares e a Crise de Governança Fiscal no Brasil
O orçamento público brasileiro é uma das ferramentas mais importantes de planejamento governamental. Contudo, nas últimas décadas, ele vem sendo dominado por interesses políticos, com destaque para a atuação do Congresso Nacional por meio das emendas parlamentares — especialmente o chamado "orçamento secreto" —, que geram impacto direto na transparência, eficiência e responsabilidade fiscal.
O Funcionamento das Emendas Parlamentares
Os parlamentares influenciam diretamente a alocação de recursos por meio das emendas ao Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA):
Emendas individuais (RP6): de execução obrigatória desde 2015, são divididas igualmente entre os parlamentares.
Emendas de bancada (RP7): formuladas por bancadas estaduais.
Emendas de comissão (RP8): apresentadas por comissões permanentes.
Emendas do relator (RP9): usadas para ajustes, mas desviadas para fins políticos a partir de 2020.
O Nascimento do Orçamento Secreto
Durante o governo Bolsonaro, as RP9 ganharam notoriedade. Lideranças como Arthur Lira e Davi Alcolumbre concentraram o controle dessas emendas. A ausência de transparência e critérios claros levou à classificação como "orçamento secreto". Em 2021 e 2022, os valores ultrapassaram R$ 16 bilhões por ano.
A Reação do STF
O Supremo Tribunal Federal declarou as emendas RP9 inconstitucionais em dezembro de 2022, exigindo transparência, identificação dos autores e critérios objetivos de distribuição.
O Retorno por Outras Vias: Emendas Paralelas
Apesar da decisão judicial, novas práticas semelhantes emergiram em 2025.O Orçamento Secreto em 2025: Reconfiguração e Persistência
Relatórios apontam que R$ 8,5 bilhões foram repassados por meio de RP2 e RP3, operadas com a mesma falta de transparência. O Ministério da Saúde concentrou os recursos, beneficiando municípios aliados. O relator do orçamento, senador Ângelo Coronel, autorizou execuções sem identificação formal do autor, o que pode violar as exigências do STF.
O TCU e entidades como Transparência Brasil e Contas Abertas acionaram novamente o STF. O ministro Flávio Dino abriu prazo para manifestação do Congresso, o que pode culminar em novo julgamento sobre essas práticas disfarçadas.
O Papel dos Ministérios e a Falta de Controle
Ministérios como o da Saúde vêm operando sob influência direta de parlamentares. As indicações informais levam recursos a redutos eleitorais sem critérios técnicos, dificultando a rastreabilidade e o controle institucional.
A Nova Configuração do Orçamento em 2025
A LOA de 2025 prevê:
R$ 39 bilhões em emendas obrigatórias;
R$ 11,5 bilhões em emendas de comissão;
R$ 8,5 bilhões em emendas paralelas. Essa estrutura limita a capacidade do Executivo em planejar políticas públicas com base técnica.
O Executivo Refém do Congresso
Com a fragmentação orçamentária, o Executivo tornou-se dependente do Congresso. Para aprovar reformas e projetos, o governo cede a pressões por cargos e liberação de verbas. Essa barganha enfraquece a autonomia da máquina pública, corrói a previsibilidade do orçamento e compromete a eficácia de programas nacionais.
A governabilidade passa a ser construída não por projetos de Estado, mas por negociações com interesses locais e eleitorais. A lógica clientelista se intensifica, dificultando qualquer tentativa de planejamento estruturado.
Implicações Políticas e Institucionais
As consequências dessa dinâmica incluem:
Desequilíbrio entre os poderes;
Baixa eficiência na aplicação do orçamento público;
Instrumentalização eleitoral dos recursos federais.
O STF e a Disputa Contínua
Organizações civis pedem o bloqueio das emendas paralelas no STF. Flávio Dino, relator da ação, avalia nova regulamentação para impedir o retorno do orçamento secreto por outras vias.
A Falta de Responsabilização e o Ônus Injusto ao Executivo
Embora o Congresso controle boa parte dos recursos públicos, a cobrança pelo déficit fiscal recai sobre o Executivo. Deputados e senadores não são responsabilizados por emendas que ampliam o rombo nas contas públicas. Sem metas, indicadores ou fiscalização, os parlamentares escapam do escrutínio que recai sobre o presidente e seus ministros.
Esse descompasso institucional reforça a necessidade de accountability no Legislativo. É fundamental exigir transparência nas emendas, metas de desempenho e auditoria pública constante.
Alternativas e Propostas de Reforma
Recomendações para reestruturar o sistema orçamentário:
Identificação pública dos autores das emendas;
Publicação de critérios técnicos e impactos esperados;
Fiscalização intensiva pelo TCU;
Participação da sociedade civil organizada na alocação de recursos;
Planejamento regional integrado às políticas nacionais.
A governança orçamentária no Brasil está em crise. O orçamento secreto, embora abolido formalmente, persiste de forma disfarçada. A fragmentação do orçamento, o clientelismo e a falta de responsabilização ameaçam a eficiência e a legitimidade da gestão pública. Uma reforma estrutural é urgente para garantir justiça fiscal, equilíbrio entre os poderes e uso responsável dos recursos públicos.